Perdoem-me a insistência no assunto mas é que isto de ir ao ginásio tem muito que se lhe diga. Pelo menos para uma pessoa pouco ou nada dada à prática de exercício físico. Já aqui vos tinha contado que tenho uma amiga que é PT (personal trainer), lembram-se? Pois bem, esta rapariga é uma pequena nazi, sem sentimentos ou empatia pela dor alheia. Ela bem tenta disfarçar a coisa com sorrisos simpáticos e palmadinhas nas costas "vá valente!", mas vocês não se deixem enganar. Há uns anos fui aluna dela e sei bem do que falo. "Sobe step, desce step, salta, voltinha, agachamentos, aguenta, aguenta - costas direitas! - aguenta, aguenta, aguenta, sobe step, voltinha, salta, abdominais - atenção à lombar! - aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, aguenta, mais agachamentos, volta a subir o step, a descer, a subir, a descer, a subir, a descer - mais rápido! - aguenta agachada, aguenta, aguenta, aguenta, não chora, aguenta." Numa versão bastante low profile, era mais ou menos este o ritmo e o nível de sofrimento. Até hoje acredito que estas aulas foram umas das razões que me levaram a emigrar...mas nem assim me safei. Se não mexo o rabo é porque levo uma vida demasiado sedentária, que isso não me faz bem, que não descarrego o stress, que não faço cardio e ainda por cima fumo, blá blá blá. A rapariga não descansa enquanto não me ouve dizer um "ai". E quando o ouve, não satisfeita e conduzida pelo seu espírito demoníaco, insiste que eu tenho que fazer "mais repetições, mais máquinas, com maior intensidade, com maior frequência, com mais esforço, sofrer é para meninos" e sei lá mais o quê! Vamos lá ter calma, eu só quero sair deste modo gelatina e ficar mais rijinha. Não penso concorrer a nenhuma prova de fisiculturismo feminino! Para verem como não exagero, convidei a nossa outra amiga (fazia as mesmas aulas comigo) a deixar aqui o seu testemunho. Foram meses de sofrimento em conjunto, força aí miúda, desabafa, é o teu momento:
Houve um dia, numa dessas aulas que eu consegui afasta-la de mim. O momento mais feliz da minha vida... Estava eu em pleno sofrimento profundo, com uma bola de pilates entre os braços que tinha de passar pelas pernas abertas em V, apenas e só com a força desta parede abdominal única (#onepack). Já praí na 2381293 repetição, lá vem ela toda lampeira e sorridente a saltitar por entre nenúfar tal ninfa do Tejo (mas só mesmo para quem não vê bem de um olho, que é como quem diz, a passar por entre colchão impregnado de suor alheio de pobres sofredores que já nem a viam bem), com a mãozinha puxar-me a bola mais para cima de maneira a obrigar-me a levitar mais alto... Toda eu me transformei num pequeno demónio de mau feitio e ignorando a minha génese, lancei-lhe o olhar mais profundo e sincero do mundo. Estava capaz de enrolá-la num tapete de ginásio, atá-la com uma corda de saltar a um espaldar e jogar ao mata com uma bola medicinal da mais pesada que eu conseguisse erguer. Ela lá do alto a mirar-me com uma profunda satisfação, temeu pela sua vida e seguiu sem hesitar. #achievement #lifegoals #euassusteiafera
E é isto pessoal. A nossa amiga está disposta a pôr-nos duras como o aço e o mais incrível é que se nós deixamos, ela consegue...e isso meus amigos, isso é o que se quer. Nós (vá, ou eu) é que somos pouco dadas a este tipo de desportos radicais. Se vocês têm amigos assim - ou se casualmente sabem de quem estamos a falar - não se acanhem, mandem tudo cá para fora. Desde já aceitem a nossa mais sincera solidariedade.